Como seria se Jesus fosse um pastor da TV?

Observando como funciona o movimento Gospel brasileiro, o que nada tem a ver com os cristãos, fico imaginando como seria se Jesus realmente estivesse alinhado com os ensinos dessa turma.

Se você é um cristão sério e realmente ama a Deus e crê piamente que a Bíblia é a Palavra inerrante dEle, irá admitir que esse movimento pouco ou nada tem a ver com o que Jesus ensinou e viveu.

Vamos aos fatos. Se Jesus fosse da igreja em nossos tempos:

Ele jamais seria filho do carpinteiro:

Pela lógica do movimento Gospel, ser pobre é uma vergonha. Como filhos de Deus temos de ter o melhor, Deus quer nos colocar entre os grandes e poderosos. Jesus sendo o Filho Unigênito de Deus, estando com Ele desde a eternidade em Sua glória não poderia rebaixar o “padrão de vida” para vir à terra. Ele deveria ser, no mínimo, o filho do rei mais influente do mundo e logo que atingisse uma certa idade assumiria o trono e mostraria seu poder ao mundo.

Como filho de um rei, nada de nascer em uma manjedoura:

Sendo filho do rei mais poderoso do mundo, nada de nascer em uma manjedoura. Ele nasceria no melhor aposento do palácio, de preferência todo enfeitado com ouro. Se, por acaso, precisasse sair para uma maternidade, seria a melhor que existisse em sua época, deveria ser a referência em partos e cuidados aos recém nascidos; deveria ter a UTI neonatal mais equipada de toda a região, para garantir que o plano de Deus não falharia. Ele é filho do rei!

Sem essa de ir para a maternidade em um burrinho, seria na carruagem real:

Se realmente fosse necessário ir à maternidade, nada de ir de burrinho. Tem de ser na carroagem real, escoltada por soldados muito bem armados. Deve-se garantir a segurança e integridade física do filho do rei. Quem não sabia que a rainha estava esperando um herdeiro, que fosse avisado e se prostrasse ao caminho, demonstrando a adoração ao filho do rei. Deveriam fazer isso a cada vez que a rainha passasse e depois poderia voltar às suas atividades normais. Até um bandido da época se tivesse o caminho cruzado pela carruagem real durante um assalto, deveria se prostrar e adorar, depois continuaria cometendo o ato ilícito.

A oferta de seus pais não seriam duas rolinhas:

Primeiro porque as rolinhas eram oferta de famílias pobres e isso a família real devinitivamente não é! Logo, sua oferta deveria ser um cordeiro perfeito. Mas como isso era a obrigação não poderiam ficar só nisso, deveriam dar também uma oferta de amor. Lembrando que como o amor nunca pode ser menor que a obrigação, seriam mais dois cordeiros. Além disso, deveriam entregar o dízimo de tudo o que tinham. Inclusive se recebeu algum presente, deve descobrir o valor e entregar o dízimo. Além de tudo isso, ainda teriam as primícias, votos, oferta para missões e um dízimo profético daquilo que deseja alcançar. Seria, sem dúvida alguma, a maior oferta da história e deixaria Jesus orgulhoso, ainda que isso despojasse sua família.

Ele faria milagres desde a infância para mostrar o seu poder:

Certamente ele reuniria os amiguinhos e os mandaria chamar as pessoas que tivessem qualquer tipo de problema. Montaria uma pequena plataforma para ficar visível à todos, mas ainda acessível para ser tocado, e começaria a dizer como ele é usado por Deus, que ele foi enviado pelo Pai para resolver todos os problemas daquele povo. Que a partir de sua oração eles teriam a mentalidade modificada e estariam prontos à prosperar. Depois disso, sairia impondo as mãos sobre as pessoas e conversando com os demônios, curando aqueles que necessitavam e por fim, pedindo que gravassem testemunhos para o marketing do próximo culto.

Ele faria um mega evento evangelístico para cristãos:

Nazaré ficaria pequena para tal evento. Talvez fosse melhor leva-lo para algum estádio grego. Seria uma superprodução aos moldes do intervalo do Super Bowl, a final do campeonato de futebol americano, onde o jogo acaba ficando em segundo plano para a maioria dos espectadores.

Provavelmente, teríamos ingressos de diversos preços, mas nenhum abaixo de uma centena de reais. Os mais ricos abençoados poderiam comprar seus ingressos na área VIP e quem sabe ter acesso a camarim para receber uma oração e unção especiais. Obviamente, todas as grandes influências políticas seriam convidadas, afinal, seria bom para eles estarem ao lado de Jesus nas fotos, ele gera muitos votos.

Jesus entraria em cena depois de algum grupo de Worship se apresentar por meia hora repetindo a mesma frase e mais uns 15 minutos elogiando as pessoas. Em meio a luzes e fumaça ele apareceria vestido em um terno brilhante, com sapato lustrado e mudaria sua voz para um rouco forçado, quase um Mister Catra. Ele ficaria parado recebendo aplausos e gritos histéricos de seus fãs.

Um tempo depois, quando a adrenalina dos fãs baixasse, ele começaria a pregar. Diria que não foi a cruz pelos nossos pecados, mas pelo nosso valor. Enfatizaria que, diante de Deus, estamos no mesmo patamar que ele. Prometeria chaves e riquezas para aqueles que ajudassem a bancar toda essa farra estrutura. Não se importaria em ler ou anunciar o que está escrito na Bíblia. Como um bom integrante do movimento gospel, o que importa é as pessoas se sentirem bem.

Ainda bem que Jesus é muito diferente dessa turma!

Se ler com atenção verá que nada do que foi dito acima foi inventado, mas é o reflexo das coisas que vemos em nossas igrejas e eventos.

Se Jesus encarnasse hoje, seria rejeitado e expulso de grande parte dos encontros evangélicos, afinal de contas ele é só um nome a ser usado e não uma pessoa a ser seguida, aliás nem visto como o Deus encarnado ele é tratado por essa turma de oportunistas.

Jesus se humilhou e e veio à terra para nos salvar. Pertenceu à família de um pobre carpinteiro, nasceu em uma manjedoura, não tinha onde reclinar a cabeça, não fazia milagres para impressionar, não pediu dinheiro em troca de bênçãos, não fazia propaganda de seus cultos e tampouco se cobrava para que as pessoas o ouvissem.

Sim, graças a Deus, Jesus era diferente dessa cambada de hoje!

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